29 outubro 2017

Sugestão

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14 setembro 2016

Daltonismo ecológico?



Eu reciclo, ok? Faço os possíveis para por o plástico, o vidro e o papel em pequenos contentores coloridos que jazem num canto da cozinha, ensino também os meus filhos a reciclar, sob o preceito da protecção do meio ambiente, e ainda tenho a pachorra de incentivar alguns amigos a fazer o mesmo.
Viram, eu reciclo, certo? Afinal até sou um bom rapaz e tal. Faço a minha parte, mesmo que exígua, para salvar o planeta. 

Apesar de fazer esse pequeno esforço, nunca decorei a porra das cores de cada um dos contentores da reciclagem. Quando pergunto “o vidro, é para qual contentor?”, respondem, com uma cara de espanto, “a sério? Não sabes? Como é possível? Nos dias de hoje?Puff”.
Desculpem lá mas eu não tenho de me recordar a cor correspondente ao tipo de lixo. Com o passar dos anos um fulano deixa de ter espaço na memória para ser ocupado com este tipo de frivolidades. Cada sinapse tem de ser aproveitada para coisas mais importantes, como por exemplo, o nome daquele jogador que marcou um golo decisivo no final do campeonato nacional de 1996 ou a marca daquele vinho mesmo bom e que se esqueceu após consumo exagerado do mesmo.
Já faço um esforço hercúleo para saber que existem 3 contentores de diferentes cores para desperdícios que vão além do lixo dito normal, e que um é amarelo, o outro é verde e o terceiro é azul. E já é muito. Além do mais, para que catso iria eu perder tempo a lembrar de uma coisa que está escarrapachada no próprio contentor? Só tenho de lá chegar, ler o que está na informação e despejar o conteúdo no depósito correspondente, não é?
Pois parece que não; não é suficiente! Um tipo tem de saber a cor a que se destina a porcaria da garrafa de cerveja e a lata de atum!
E agora até existe um pilhão, bolas!!!


“O Gervásio demorou 1 hora e 12 minutos para aprender a separar as embalagens usadas. E você...?”, perguntava no fim o “cientista” da publicidade à reciclagem. Bem, parece-me que se confirma que sou um macaco bem intencionado mas um pouco menos treinado…

05 janeiro 2016

A vingança do -

O hífen andava revoltado. Com o acordo ortográfico ficou arredado da companhia de diversas palavras porreiras e estava preocupado com o seu futuro. Desaparecera sem ter sido consultado, sem ter tido uma "palavra" a dizer.
Não se conformava com a situação e quis juntar-se ao "c" numa espécie de contestação contra o chamado "acordo ortográfico".
Embora o "c", que tinha sido subtraído de muitas de suas companheiras e expulso de várias palavras, também estivesse lixado da vida, não quis aceitar a associação com o hífen. Dizia que aquilo que o sinal propunha era ainda pior que o tal acordo, uma espécie de terrorismo em todas as terras de língua portuguesa, inclusive na Guiné Equatorial.
O hífen, mesmo sem a ajuda de outras letras e/ou sinais prejudicados com a nova ortografia, resolveu ir à luta sozinho. Queria voltar a ter protagonismo no idioma e começou a fazer por isso. Lentamente, foi-se introduzindo nos diálogos. Insidioso, foi aparecendo cada vez mais amiúde e utilizou uma táctica inteligente: infiltrou-se no discurso dos mais novos. Das crianças aos adultos mais jovens, foi aparecendo mais frequentemente e agora, depois desse esforço bélico, devido a sua raiva e em jeito de retaliação, o hífen reaparece, tanto nas palavras de onde desapareceu, como noutras onde nunca sequer deveria surgir...







24 novembro 2015

De ir para o "raistáparta!"?

Hoje, quando o meu mais novo procurava uma história para ser contada antes de dormir, encontrei este livro e não pude conter um sorriso sarcástico:



Respondi esta pergunta de várias formas e em nenhumas delas se excluiu algum tipo de calão.

13 novembro 2015

Coerência

"Passos pede revisão constitucional imediata para antecipar eleições" - in DN

Se há coisa que eu admiro numa pessoa é o seu sentido de coerência...


21 setembro 2015

As figuras de estilo aplicadas à Medicina

Depois de ter de engolir em seco após ouvir um dos melhores pleonasmos da minha carreira, resolvi criar esta pequena lista de algumas figuras de estilo aplicadas à arte médica.
Comecemos, então, a libertar cultura:

PLEONASMO (o tal de hoje):
"Seus pais ainda estão vivos?"
"Meu falecido pai já morreu"

EUFEMISMO
(senhora obesa) - "Dr, estou a ficar assim um pouco para o forte"
DISFEMISMO:
(o marido da senhora obesa) - "Forte o caraças, tás é gorda como tudo!"

METONÍMIA (o continente pelo conteúdo + o lugar pelo produto)
"Consome bebidas alcoólicas?"

"Bebo meus copos, sim senhor. Bebo um Porto ou dois de vez em quando"

METÁFORA:
"O senhor fuma"
"Sim, Dr., sou um fumador invertebrado" 

HIPÉRBOLE (utilizada especialmente nas urgências):
"Tenho esta tosse praí há uns 6 meses... ou mais!"

CATACRESE:
"Tenho comichão na boca do corpo!"

PARADOXO:
"Dr, aqueles comprimidos para dormir deixaram-me acordada a noite toda!"

PROSOPOPEIA:
"É uma dor fina que corre o corpo todo!" 



E, no fim de um dia de trabalho:
APÓSTROFE
"Deus! Ó Deus! Onde Estais que não Respondes!"

14 fevereiro 2015

A carta

Meu amor,
Aqui estou eu sozinha. Perdida neste mundo, abandonada por ti. 
Onde estarás, meu amor? Trocaste-me por outra? Existirás noutro coração? 
Não quero acreditar que ficarei só para sempre mas, quando penso que apenas tu és o meu perfect match, confesso que desespero. 
Tenho aguardado no meu frio quarto pelo teu regresso e a cada passo que ouço fantasio o teu retorno. Volta para mim, meu querido. Volta para me completares finalmente. Sonho com o dia em que te voltarei a ver e, lado a lado, caminharemos juntos. Correremos em paralelo até onde pudermos, até onde aguentarmos. Iremos em direcção ao fim do mundo, em direcção a um horizonte longínquo e lá descansaremos e dormiremos juntos e, assim, acabaremos os nossos dias. 
Eu não vivo sem ti, eu não existo sem ti. Sem ti não valho nada e não tenho futuro. Dependo de ti para subsistir, tal é o meu amor e a minha dedicação a ti. 
Por tudo isso e muito mais, imploro-te: volta e junta-te a mim novamente. Eu não suporto esta solidão. 

Com profundo amor e esperança, 

O outro par de meias. 

Devaneio escrito depois de mais de uma hora na tentativa de organizar dezenas de meias aos pares e  após ficar com outro tanto destas "viúvas" nas mãos.

07 janeiro 2015

11 julho 2014

Cagaço ventral

Chamo o doente ao gabinete. Vem hoje à consulta para mostrar alguns exames pedidos da última vez que nos encontramos.
Após as conversas de ocasião típicas de um encontro com qualquer outra pessoa, com os "bons dias" e "como tem passado" da praxe, peço-lhe os exames.
Depois de dar uma vista d'olhos a cada uma das provas ressalvei uma alteração no seu electrocardiograma.

- Bem, está tudo "ok" com os exames, Sr. "Manuel" (fictício). No entanto, aqui no seu ECG tem uma coisita menos bem, uma espécie de arritmia chamada fibrilhação auricular.
- Ó, Dr, eu sei porque tenho essa arritmia.
- Sabe? Então diga lá porquê (já ansiando por uma daquelas deliciosas histórias).
- É por causa dos nervos, Dr. E digo-lhe mais, até sei quando é que começou.
- A sério? O quê? A arritmia ou os nervos.
-  Os nervos... ou se calhar os dois. Pois bem, em 1900 e troca o passo, aqui perto do Centro de Saúde, houve uma trovoada muito forte. Andava eu no ventre da minha mãe, está a ouvir? Bem, acontece que nesse dia caiu uma faísca na casa vizinha da dos meus pais. O raio da faísca entrou pela chaminé e matou a senhora da casa que ficou carbonizada, está a ver? A minha mãezinha que ouviu o estrondo, e depois viu o corpo da mulher toda desfeita, apanhou uma carga de nervos tal que passou para mim que estava na barriga. Desde essa altura que sou estressado e é de certeza daí que vem essa arritmia.
- Pronto, tudo bem... mas vamos ter de tomar medicação, ok?
- Prós nervos?
- Não, Sr. Manuel, para a arritmia...

Quisera eu que tudo em medicina fosse tão fácil de explicar...

30 maio 2014

Foxy fox

A raposinha convidou-o para um passeio.
O pequeno e matreiro canídeo puxou-lhe pela mão e cantou-lhe doces notas etílicas na regouga, enfeitiçando-o.
Ele, não resistindo-lhe aos encantos, deixou-se ir.
Subiram o monte em direcção ao covil da pequena raposa quase sem tocar o chão, tal era a leveza porporcionada pela hipnose do etilo.
Chegaram a toca da raposinha no cimo do monte, confortavelmente encondida entre verdes parras e formosas vides, e por lá ficaram.
Comemoraram durante horas a comunhão entre os dois. Dançaram cada vez mais rápido e pularam cada vez mais alto. Ele cantou cada vez mais desafinado e cambaleou cada vez mais embriagado. Após algum tempo de júbilo consumo, aterrou violentamente no chão, vencido pela vertigem alcoolémica e pelo peso saboroso do sumo arroxeado oferecido pela anfitriã.
Por fim, perdeu de vez todos os sentidos.

A raposinha vencera o fraco humano. Do cimo do seu monte ouviu-se uma espécie de uivo de triunfo estranhamente familiar... talvez, quem sabe, por se repetir com alguma frequência.