27 fevereiro 2010

CPI

Hoje, enquanto preparava o pequeno-almoço e como é hábito cá em casa, ouvia as notícias matinais na RTP.
Falava-se da proposta do PSD sobre a criação de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) para apurar as (diversas) tentativas do governo em controlar a comunicação social, neste caso em concreto, a compra de parte da TVI pela PT.
À dada altura da peça jornalística, aparece o Sr. deputado Francisco Assis, qual paladino do governo, a dizer uma frase que me intrigou. Dizia ele:
"O PSD, com este acto, tenta por em causa o carácter do Sr. Primeiro Ministro!"
Achei realmente estranha e descabida esta afirmação, até porque, para isso, era necessário que o Sr. PM tivesse realmente algum carácter.
Continuando...
Depois de ouvir esta reportagem e depois de ouvir tudo o que se tem dito, ler tudo o que se tem escrito e ver tudo o que se tem mostrado, tomei uma decisão: este blog vai passar a conjecturar sobre este governo, nomeadamente sobre a pessoa do PM.
E aí vocês perguntam (ou, mais provavelmente, não): Porquê?Porque se a TVI e o Sol sofreram tentativas de compra por entidades semi-públicas, pode ser que, criando novos boatos sobre esquemas, o governo se interesse e queira comprar também este blogue...
...é que estou mesmo a precisar de uns cobres.


25 fevereiro 2010

Dizer - verbo intransitivo (re-post)

Como estou com preguiça, hoje faço um re-post de um texto já com algum tempito (07/2007), do tempo do Correia de Campos como ministro da saúde, Maria de Lurdes Rodrigues como ministra da educação e outros que tais. De um tempo no qual para ser funcionário público era necessário ter um olho na nuca... mas será que esse tempo já passou? Hum...

Gostaria de dizer algo que tenho vontade de dizer há já algum tempo. Não digo porque se disser corro um enorme risco: dizer algo que não devia ter dito.
Por trabalhar para quem trabalho, estou impedido de dizer o que quer que seja actualmente, pois tudo que disser pode ser e, inevitavelmente, será usado contra mim.
Se alguma vez vos disserem que disse algo, eu direi que não passa de uma mentira.
Eu não vou dizer que este governo não presta, nunca diria tal coisa. Eu nunca disse que este PM é intolerante, irascível e feio; se disseram que tinha dito equivalente assunto, venho dizer que se enganaram.
Eu nunca, em sã consciência, iria dizer que o Ministro da Saúde é incompetente. Só porque ele diz barbaridades não posso dizer que o homem é ignóbil, incoerente e intragável. Não é porque o homem é impopular que dá o direito de dizer o que apetece e por isso simplesmente não digo... e também não penso.
Por falar (ou dizer, ou talvez nenhuma nem outra) em pensar, digo que é raro hoje em dia. A arte de pensar é tão difícil como a hipótese de eu dizer que tal é culpa dos Ministros da Educação. Eu não disse que a culpa era dos ministros, muito menos da actual, essa senhora que eu não digo que não seja apta para a pasta. Alguma vez teria a lata ou a audácia de dirigir a palavra de forma jocosa a qualquer acto que a Exma Srª faça? Nunca diria nada que fosse verdade e se o fizesse seria obviamente uma inverdade dita por alguém que não sabe se sabe do que diz.
Eu não digo que estou revoltado, não tenho porque dizer. Também não vou dizer que está tudo bem. Talvez aceitem que diga que a culpa é da UE. Mas aí o Sr. Ministro da Agricultura talvez tivesse que dizer para sairmos dessa problemática "instituição". Não pensem que vou dizer que o Sr. é inábil, não seria rude a esse ponto.
Eu não digo nada mas vejo algumas coisas. Acharia graça se muitas delas não me afectassem, mas infelizmente não posso dizer que isso não aconteça.
Não vou dizer que estou amordaçado, calado, silenciado, discreto ou tácito, mas também não estou muito interessado em levar um processo disciplinar por dizer o que nunca disse nem tive vontade de dizer. Eu não digo porque tenho med.. ops, receio que ouçam os que não me interessa que ouçam o que eu não tenho para dizer, por isso eu não digo, nem penso... mas escrevo enquanto posso.
Ainda bem que ainda podemos ficar calados quando queremos dizer algo. É bom podermos ser(-se) controlados, para que depois não sejamos atacados pela nossa PID... consciência.

Não façam como eu, digam, expressem-se!!!
PS(não o partido): mas não digam que fui eu que disse!

24 fevereiro 2010

Grande (seca de) entrevista?

"Alberto João Jardim responde às perguntas de Judite de Sousa na Grande Entrevista" RTP





Olha que dois!
Uma que não gosta de respostas e outro que não gosta de perguntas... vai ser lindo vai.

23 fevereiro 2010

O ser otário

Numa discussão acesa com um amigo cheguei à uma triste conclusão. Falava ele que muitos dos meus colegas trabalhavam no serviço nacional de saúde a ver doentes que atenderam no sector privado e que não compreendia o porquê de, aqui o vosso amigo bloguista, não fazer o mesmo. Eu, talvez ingenuamente, respondi-lhe que ainda mantinha a minha ética e que não tinha feito o curso para enriquecer à custa da desgraça alheia. Ele, "galhofadamente", disse-me: "não sejas otário, pá!"
Então, como disse antes, cheguei à uma importante conclusão, daquelas que me irá perseguir até ao fim da minha triste vida: EU SOU OTÁRIO!
Eu sou otário porque estou satisfeito com o que tenho.Sou otário porque, apesar de ambicioso, não tenho uma ganância desmedida a correr-me pelas veias.
Sou porque deixo passar uma grávida à minha frente numa fila qualquer ou porque ofereço meu lugar sentado a um idoso.
Sou otário por defender a cidadania e o civismo.
Sou otário porque pago os meus impostos e não idolatro quem não o faz. Entendo que esse não está só a roubar o estado, está é a roubar-me a mim.
Eu sou otário porque devolvo a carteira ao seu dono.Sou otário porque tento cumprir o código.
Otário porque sou honesto, íntegro e recto. Porque tenho uma consciência que me mói quando saio dos carris.
Sou otário por considerar que os fins não justificam os meios.
Sempre fui otário por não usar cábulas e não trapacear.
Sou otário mas não palerma para pensar que sou perfeito.
Sou otário por devolver a bola ao adversário.
Eu sou otário por respeitar horários previamente combinados,por dizer bom dia, por não ficar a dever e por respeitar minhas promessas.Sou otário por não ser materialista ao ponto de ter de vender a alma ao diabo para comprar um Mercedes ou uma casa de 20 assoalhadas.

Mas se tudo isso é ser otário, e se me sinto feliz e realizado por tentar ser boa pessoa, então, meus amigos, o fulano tinha toda a razão: eu sou um grande otário; sendo assim consegui tudo o que tenho, que nem é pouco...
No entanto, ele e outros como ele, que não acreditam que uma pessoa possa ser feliz com pouco, esses não são otários, mas sim uns grandessíssimos idiotas! Nunca vão experimentar o bem estar do ser otário... como eu.

21 fevereiro 2010

Madeira de Ferro!

Quem conhece a Madeira, quem conhece os madeirenses, sente uma dor tão grande hoje.
Mas, quem conhece a Madeira e quem conhece os madeirenses, tem a certeza de que aquela "Pérola" continuará a ser a mais bela do colar atlântico.


20 fevereiro 2010

Gatunagem

Gosto de "caminhar" pela blogosfera. Nela encontrei gente inteligente e acutilante (gosto desta palavra, desculpem lá).
Foi em mais um passeio pelos caminhos bloguísticos que encontrei o texto que posto a seguir. Fui à "Tasca do tio João" e lá estava um link para a "Força Emergente". Este último escreveu o que transcrevo aqui. Transcrevo por achar que é uma informação deveras interessante, e importante, para passar em claro.
Então vejamos:

"Vergonha Nacional
Até que ponto chega o descaramento dos políticos deste País ?
Como é que esta sociedade permite isto ?
Será que não sabem ?
Vamos por partes.
Bom, já todos ouvimos falar na Cova da Beira, no Freepor(t), nos sobreiros, nos submarinos, no BPN, nas contas dos primos na Suíça, nas empreitadas que começam em 5 e acabam em 10, nas adjudicações sem concurso publico, nos pagamentos a assessores, nas reformas escandalosas de políticos, autarcas, funcionários do Banco de Portugal, funcionários doutros bancos, funcionários de empresas publicas, nas indemnizações inconcebíveis e inadmissíveis a gestores partidários, na utilização do aparelho de estado para empregar amigos, familiares, correlegionários políticos, etc, etc.
Sobre esta vergonha certamente que já todos temos alguma consciência, pois a divulgação publica a isso obriga.
É certo que parece que ainda não chega para nos aborrecermos muito.
Mas...se agora lhe sugeríssemos para analisar o Diário da República nº 28 - I série- datado de 10 de Fevereiro de 2010 - RESOLUÇÃO da Assembleia da República nº 11/2010.Poderão aceder através do site WWW.dre.pt
Vamos ler;
Algumas rubricas do orçamento da Assembleia da Republica
1 - Vencimento de Deputados ...........................12 milhões 349 mil Euros
2 - Ajudas de Custo de Deputados........................2 milhões 724 mil Euros
3 - Transportes de Deputados ...........................3 milhões 869 mil Euros
4 - Deslocações e Estadas ..............................2 milhões 363 mil Euros
5 - Assistência Técnica (??) ...........................2 milhões 948 mil Euros
6 - Outros Trabalhos Especializados (??) ...............3 milhões 593 mil Euros
7 - RESTAURANTE,REFEITÓRIO,CAFETARIA..............961 mil Euros8 - Subvenções aos Grupos Parlamentares.................970 mil Euros
9 - Equipamento de Informática .........................2 milhões 110 mil Euros
10- Outros Investimentos (??) ..........................2 milhões 420 mil Euros
11- Edificios ..........................................2 milhões 686 mil Euros
12- Transfer's (??) Diversos (??)......................13 milhões 506 mil Euros
13- SUBVENÇÃO aos PARTIDOS na A. R. ..................16 milhões 977 mil Euros
14- SUBVENÇÕES CAMPANHAS ELEITORAIS ....73 milhões 798 mil Euros

Em resumo e NO TOTAL a DESPESA ORÇAMENTADA para o ANO de 2010, é :€ 191 405 356 191 405 356,61 (191 Milhões 405 mil 356 Euros e 61 cêntimos) - Ver Folha 372 do acima identificado Diário da República nº 28 - 1ª Série -, de 10 de Fevereiro de 2010.
Vamos lá então ver se isto agora já o começa a incomodar um "bocadinho". Repare:
Cada deputado, em vencimentos e encargos directos e indirectos custa ao País, cerca de 700.000 Euros por ano. Ou seja cerca de 60.000 Euros mês.
É muito ? Não é, tendo em conta o excelente trabalho que produzem.
Aliás, somos nós que permitimos isto !
Então diga-nos. É ou não uma autêntica vergonha Nacional ?
Ficou admirado ou já sabia ? "


Tirem as vossas conclusões... e sejam criativos.

17 fevereiro 2010

Sonho

José Rodrigues dos Santos aparece no ecrã, são 20:00 em ponto.
"Boa noite. Mais uma empresa vai fechar deixando cerca de 230 pessoas no desemprego. No entanto, os sindicatos, pela primeira vez, parecem apoiar o despedimento destes "trabalhadores". Vamos agora, em directo, à fala com a repórter da RTP, Andreia Neves, que se encontra à frente do Palácio de São Bento, sede da organização agora falida. Andreia, como estão a reagir os "trabalhadores" à esta situação de falência da Assembleia da República?"
"Boa noite, não parece haver grande surpresa nos rostos dos, agora, desempregados. Há já algum tempo que se ouviam rumores acerca duma possível dissolução desta entidade pública. Apesar de haver um ambiente de consternação, os "trabalhadores" têm, a seu favor, o facto de poder usufruir do subsídio de desemprego..."

E o despertador toca... tenho que ter cuidado com o que janto.

15 fevereiro 2010

Shāh māt

Como ontem foi dia de S. Valentim, um santo muitíssimo influente por estas bandas:


Ai, a paixão. O ser apaixonado faz tudo pelo objecto da paixão; chega ao cúmulo do ridículo e do dramático para fazer-se notar ao outro(a); escreve poemas, compra flores, gasta o que tem e o que não tem para impressionar.
O apaixonado não dorme, não come, não trabalha: o amor sustenta-o.
E, é então que se depara com a triste realidade: ninguém é perfeito.
Por mais que se idealize alguém, há sempre qualquer coisita que foge à perfeição. Ou é uma voz sibilante, ou um cheiro estranho dos pés, ou uma paixão pelo clube errado, é só procurar: o defeito estará lá.Alguns ignoram, outros até pelos defeitos se apaixonam, outros partem para outra e continuam à procura do príncipe/princesa encantados.
Não falo da minha princesa, porque agora já é rainha e isto aqui em casa é como um jogo de xadrez: a rainha é a peça mais importante...



E por fim, um saudoso vídeo de uma saudosa banda:

13 fevereiro 2010

Updates

Clica aí na imagem

Eu uso o Firefox, mas chegando à página inicial deparei-me com esse texto a publicitar a nova versão do browser.
Fiquei preocupado: será que a nova versão é mesmo melhor ou já terá o acordo ortográfico?

11 fevereiro 2010

Re-post: Ao meu 1º cabelo branco

Para o desafio "Velhice", da Fábrica de Letras:



Oh tu, branco, em destaque
Na floresta negra da cabeça,
Vens lembrar o meu corpo
Para que também se envelheça.
Vens com pompa e circunstância
Para que não me esqueça
Que já vai longe minha infância
E me vens dar nova aparência.
No imenso mar negro de cabelos
Vai tentando sobressair,
Faz de tudo para que possa vê-lo,
Não pára de insistir.

Mas é em vão.
Tentas chamar-me a atenção
E apareces-me ao espelho,
Tentas vencer-me pela exaustão.
Mas ainda não me sinto velho.
Tu, branco, que anuncias o princípio do meu fim
E que faz alarde desde que nasceu
Não te rias mais de mim
Pois cairás muito antes do que eu.

Burocratidose

Existe uma praga que está a destruir o país. É uma infecção, uma verminose, uma parasitose.
Portugal está infestado por uma espécie de seres desprezíveis, abjectos e asquerosos: os burocratas.Esses animais corroem as estranhas do Estado, sugando-lhe até ao tutano, nutrindo-se com o alheio, acabando com a paciência dos pobres mortais.
São caracterizados pela mediocridade, especialistas em compadrio, no lambe-botismo e no por-baixo-do-pano. Pululam em todos os cargos possíveis e imagináveis. Colonizam juntas, câmaras, assembleias, ministérios ou qualquer lugar cujo concurso dependa da vontade de outro burocrata. Tomam decisões baseadas na mais pura e cristalina ignorância e a sua inépcia não tem limites.
Mas, apesar de tudo, os burocratas reinam. Eles estão lá, à nossa frente, ocupando os lugares cimeiros e cargos de chefia; colocados nos respectivos assentos por outros da sua espécie, perpetuando o ciclo vicioso e doentio.
Eles mandam em tudo. Aparecem na televisão sorridentes. Escapam incólumes às vãs tentativas de os eliminar. E, apesar da tremenda cara-de-pau, são ágeis, elásticos e esquivos.
Fala-se nas mortes pela SIDA, Tuberculose ou Malária mas, amigos, não há doença que mate mais que os burocratas. Eles são piores que o cancro, vão minando, insidiosos, até ao ponto do não retorno, e tudo depois é paliativo.
Por causa deles se morre de fome e de sede, não se constroem hospitais, escolas ou outras benfeitorias; eles decidem-se sempre pelo supérfluo, desde que lhes dê lucro.
São eles que encravam as engrenagens...
Os burocratas estão por todo o lado; sempre estiveram e, temo não errar por muito, sempre estarão, ou talvez não... quem sabe arranjamos uma droga eficaz ou, quem sabe, já a temos mas não usamos.


Imagens google

09 fevereiro 2010

Isto não morre!

Alguns dias sem postar e fica um sentimento de vazio.
Nos últimos dias estava tão assoberbado de trabalho que o cansaço venceu a extrema vontade de escrever.
Muitas vezes elaborei ideias para passar para aqui mas um terrível peso nas pálpebras impossibilitou qualquer aventura no teclado.
Aí descobri que, apesar de gostar muito do meu espaço virtual e de interagir com os amigos virtuais, não sou assim tão viciado...


Afastado

Há algum tempo que não posto nada nem sequer vou às "casas" dos meus vizinhos aqui da direita.
Não gosto de abandonar este espaço por muito tempo e temo que, se isso aumentar, tenha que lhe dizer "adeus".
Enquanto isso não vem, ficam estas palavras do último Congresso Português de HTA:
- Destiffening;
- Remodeling;
- Deeper e non deeper;
- Guidelines.

E, de uma viagem de regresso de 3 horas desde o Allgarve, ficam estas belas afirmações:
- "... nas maçãs eu dou a dentada que eu quiser!"
- "... gosto da parte dura (do ananás) que é aquosa e docinha"


Amizade...

02 fevereiro 2010

O velho de Vila Velha de Ródão


Em resposta ao desafio "velhice" da Fábrica de Letras:



O velho de Vila Velha de Ródão acordou. Mais uma manhã começara. Há 87 anos que era assim e sentia-se cansado, mas hoje seria diferente.
O velho de Vila Velha de Ródão estava só. Ecoavam os seus passos na pequena e vazia casa de pedra. O chão, de madeira gasta, gemia à sua passagem. A casa, que o vira nascer, estava cansada de estar de pé e começava a ceder à passagem do velho e do tempo.
O velho de Vila Velha de Ródão olhou-se ao espelho. Observou o rosto cravejado de anos e, no seu lugar, imaginou a face do rapaz que outrora corria por ali. Aquele jovem de Vila Velha de Ródão, que um dia sonhou conhecer Lisboa, voltara por uns instantes mas, como da 1ª vez, lá se foi embora, deixando uma cara decadente a reflectir no vidro.
Ao espelho, o velho de Vila Velha de Ródão concertou o nó da gravata. Há anos que aquela peça jazia no fundo da gaveta e, por esta ocasião tão especial, resolveu tirá-la da reforma. Esfregou um pouco de “Old Spice®” na cara e preparou-se para sair.
O velho de Vila Velha de Ródão chegou ao café da vila. Lá cumprimentou muitos outros velhos de Vila Velha de Ródão que, tal como ele, cheiravam à naftalina e a braseiro e bebiam aguardente velhíssima.
Os velhos de Vila Velha de Ródão falavam alto uns com os outros, uns porque ouviam mal, outros para espantar a solidão. Notava-se, por entre as rugas, olhos de ansiedade.

Uma voz chamou pelos velhos de Vila Velha de Ródão. Levou-os até à praça principal onde se encontravam as velhas de Vila Velha de Ródão em grande algazarra. Reuniram-se todos à volta de um autocarro. À frente da enorme viatura um letreiro a “dizer” Lisboa.
No interior do autocarro, os velhos e velhas de Vila Velha de Ródão cantavam canções quase tão velhas como os próprios. Comungavam histórias de fome, perdas, dores e sonhos. Alguns faziam força para conter as gotas salgadas que lhes brotavam nos olhos ao lembrarem-se dos que já não estavam, outros simplesmente davam azo à maré.
Os velhos de Vila Velha de Ródão chegaram à metrópole. Espantaram-se com o tamanho dos prédios, com o barulho da urbe, com o ar pesado e sujo, com a mistura das gentes.
Alguns velhos de Vila Velha de Ródão, recusaram-se a sair do transporte, alguns caminharam como não faziam há anos. Uns estavam siderados, outros fascinados, outros (a maioria?) estavam assustados.

Aquele rapaz que aparecera ao espelho pela manhã, ressurgia agora na carne e ossos muito usados do velho de Vila Velha de Ródão. Agora, o rosto sorria, os males da carne não doíam, no seu coração apenas felicidade, daquela pura e enérgica, como não conhecia há anos.
Lisboa era grande, maior que nos seus sonhos. Era bela,sinuosa, maliciosa; nas suas colinas sonhou lânguidas colinas de moça.
Viu o sol a reflectir nas prateadas águas do seu tão conhecido Tejo, aqui mais belo e maior do que nunca. Pensou no rio como um menino que saiu da sua Vila Velha de Ródão e se fez homem na cidade grande.
Viu partir um navio e sonhou os lugares maravilhosos que poderiam ser destino mas não desejou estar noutro lugar naquele momento.
Sentiu a brisa quente lamber-lhe a face... lembrou-lhe as travessuras da juventude.
Inspirou forte, sorveu o ar da capital.

A voz, novamente, chamou pelos velhos de Vila Velha de Ródão, acordando-os do transe.
Num misto de êxtase e desilusão, lá entraram no autocarro e fitaram, ainda de pé, a despedida da grande cidade. Pareciam os que ficavam em terra a ver os navios zarpar, acenando até perder o objecto no horizonte.
Assim também foi com Lisboa que rapidamente desapareceu por trás de um monte.

O velho de Vila Velha de Ródão rodou a chave e entrou na sua, também, velha casa. Arremessou a gravata para a gaveta e sentou-se por alguns segundos à beira da cama. Olhou pela janela fosca sem intenções de ver o exterior. Na sua mente as luzes de Lisboa, seu sonho cumprido.
Levantou-se e foi à casa-de-banho. Olhou ao espelho e não viu rugas, não viu cabelos brancos ou falta de dentes. Viu aquele jovem de Vila Velha de Ródão que sorria-lhe satisfeito, piscando-lhe o olho de forma marota.

E o jovem de Vila Velha de Ródão retornara para nunca mais fugir. Todas as manhãs aparecia reflectido no espelho e presente no coração e mente do velho de Vila Velha de Ródão, para provar que apenas o corpo envelhece.

Luís Fernandes Lisboa
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Monumento Natural Portas de Ródão (google)