08 abril 2010

Período introspectivo



Amigos, este blog ficará abandonado até ao fim de Junho.
But, fear not... I'll be back

04 abril 2010

Intelectualices

Os meus queridos amigos vão ter de me desculpar, mas vou destilar algum veneno acumulado, coisa que eu até nem gosto muito, mas que por vezes sabe bem... mesmo muito bem.

Já falei aqui, e várias vezes, sobre os opinadores. Os opinadores são aqueles animaizitos que têm opinião sobre tudo, desde a conjuntura macrossocial da sociedade da República do Laos e do Sultanato do Butão até a adstringência, quantidade em taninos, sabor frutado e odor amadeirado do vinho branco de Albergaria dos Doze.
Os opinadores enervam-me, muito... mesmo muito. Mas os que mais me enervam são aqueles opinadores intelectualóides, daqueles que usam palavras caras, de difícil definição, e que andam às voltas sobre um tema, terminando no mesmo sítio onde começaram. São os que dão as voltas de 360º, os que "falam-falam, falam-falam, e eu não os vejo a fazer nada", os cuspidores de direitos, mas que quando espremidos nem gota de sabedoria deitam... apenas a pura, cristalina, cândida e alba ignorância e estupidez das quais são constituídos.
Ok, eu também estou a ser intelectualóide e ando às voltas com este texto de treta, e também já opinei muito neste blog, dando a volta ao meu próprio estômago; então vou directo ao assunto.
Fui alertado para esta notícia publicada no "Público". Bem, fui alertado mais para os comentários à notícia do que para a própria notícia. Nem sequer li o texto informativo e comecei a ler as "opiniões" dos opinadores. Logo no primeiro comentário deparei-me com esta pérola de imbecilidade:

" joaorapace, coimbra. 03.04.2010 16:11

médicos de família é um engodo

Os médicos de família serão assim tão importantes? Pouco mais sabem do que um cidadão com alguma destreza. A maioria que eu conheço são muito fracos, aliás os médicos em geral, salvo honrosas excepções a alguns, que estão situados em Lisboa e no Porto. O resto, quando é uma operação mais delicada não sabem fazer. Esta é a realidade. Houve aí alguém a falar de enfermeiros poderem ser médicos de família? Talvez! O que faz um médico de família? Bem a minha vê a tensão e passa receitas. Quando lhe digo que estou constipado, vai ao computador, a algum programa e vê o que me há-de dar! Relatórios médicos não é com ela! Deixem-se de alarmismos. Uma pessoa mais esperta pode ser médico de família!"

Este comentário lembrou-me duas aulas do tempo da faculdade: uma de Ortopedia, na qual se falava de epitrocleíte e epicondilíte, duas situações que podem dar dor-de-cotovelo; e outra de psiquiatria, na qual se dissertava sobre frustrações, situações que, como qualquer pessoa com alguma destreza sabe, não são passíveis de tratamento.

Cheguei a algumas conclusões depois de ler este mimo de idiotice. Primeiro, o Sr. João não me parece que tenha alguma destreza, ou senão, segundo as suas próprias ideias, seria médico de família. Segundo, o Sr. João parece desconhecer por completo o que é Medicina e deve estar sentado com o rabiosque no seu escritório ou banco de táxi; devo aconselha-lo, se me permite, a tomar cuidado: a posição "sentado" pode originar problemas hemorroidários e, sabendo-se ser uma cirurgia muito delicada, pose ser necessário despachar esse seu traseiro para um país mais avançado nestas técnicas, como por exemplo... hum... o Djibuti. Terceiro, parece também não saber o que faz um Enfermeiro; tenho muitos amigos enfermeiros (alguns até vão ler isto, se tiverem pachorra), mas o meu trabalho é o meu trabalho e o deles (muitíssimo meritório) é o deles; sou contra as injecções dadas por farmacêuticos, por exemplo, e contra este tipo de comentários "especializados" feitos por mentecaptos como o Sr. João; já diz a sabedoria do povo: "cada macaco no seu galho", parece-me que o Sr. João não terá um galho disponível, mas pode ser que se contente com uma bela e saborosa banana. Quarto, "o que faz um médico de família?", poderia dissertar filosoficamente sobre este tema, mas isso seria demais para a dupla neuronal que o Sr. João alberga no projecto de encéfalo; se quiser saber, pode sempre ler um tratado de Medicina Familiar, mas ler... para si... não me parece... talvez "a bola" ou o "público" online; ainda bem que não vai assim tanto à sua médica de família, ou teriam os outros doentes que aguardar até ela voltar da baixa por danos psicológicos; ela passa receitas? Você também passou-nos uma a quem o pôde ler: como provar a ignorância em apenas 9 linhas; se ela não quiser passar-lhe um relatório, não se preocupe, pare alguém com alguma destreza no meio da rua e pode ser que tenha alguma sorte. Quinto, "uma pessoa esperta pode ser médico de família"; caríssimo, esperto são os cães... se calhar você é esperto, talvez tenha se enganado no local onde necessita de cuidados de saúde...

E assim caminham os quadrúpedes opinadores intelectualóides da sociedade lusa.
Sei que não devia desperdiçar meu tempo para isto, mas fazer o quê, sabe bem despejar neste espaço algumas "angústias"... é exactamente para isso que isto, de ter blogues, serve.
O Sr. João bem podia deixar de ir ao seu CS e deixar o lugar aqueles que não têm médico atribuído, de certeza que lhe agradeciam.
E se acha que a sua médica não sabe tratar das suas constipações, venha ter comigo, tenho a receita certa para si:
- Umas gotinhas de haloperidol;
- Uma "amarguinha";
- 2 supositórios de Paracetamol 500 mg;
- 1 injecção de água destilada.
Garanto-lhe que passaria muito tempo até pensar em voltar...

"الحُمْقُ داء ولا دواء له"
"A estupidez é uma doença para a qual não existe remédio"
Provérbio Árabe

03 abril 2010

Trocadilho

Parece que o Ratzinger está indignado e quer acusações sobre pedofilia trocadas por miúdos...

01 abril 2010

À beira

Para o desafio "Abismo" da "Fábrica de Letras"






À beira

Júlia subiu à grade daquela ponte sobre o rio Zêzere e respirou fundo. Tinha decidido saltar e não havia nada nem ninguém que a impedisse.
Olhou para o céu azul de início de primavera e fechou os olhos tentando absorver cheiros, ruídos e o calor ténue do sol. Uma brisa lânguida lambia-lhe a face.
Olhou para baixo e calculou o tempo da queda; vislumbrou o rio a correr calmamente, como que ignorando o que estava para acontecer, e bandos de pássaros a pulular entre árvores no festim do cio primaveril.

Júlia planeara isto há algum tempo mas, no entanto, faltara-lhe sempre a coragem necessária. Chamaram-na fraca muitas vezes ao longo da sua curta vida, mas agora iam todos ver do que era capaz. Já não tinha dúvidas e agora faltava pouco tempo para o concretizar.
O seu coração quase não dava conta do recado.

Ultrapassada a grade, Júlia postou-se mesmo a beirinha da imensa construção de betão, agarrada à vida por um fio, suando frio, mas decidida. Cantarolava “I believe I can fly” por entre os dentes de forma a ignorar a ansiedade que a consumia. Sentia dores lombares de tanto trabalho que dava às suprarrenais.
“Vai Ju, força, é só mais um passo”, tentando empurrar-se com a mente.
Baloiçou os braços, respirou o mais fundo possível, cerrou os olhos… saltou…

Partiu em silêncio.
Sentiu um frio no estômago e uma sensação de êxtase nunca antes vivida. Seguia naquela queda vertiginosa mas que, ao mesmo tempo, parecia-lhe em câmara lenta. Podia ver a ponte a afastar-se em direcção ao céu e o rio a aproximar-se majestoso.
Pensou… pensou muito durante aquela viagem.
Pensou no trabalho rotineiro das 9 às 5; trabalho mecânico sensaborão, arranjado por um amigo de um amigo, numa empresa tipo “João sempre-em-pé”, tipo vai-não-vai para esfumar-se. Seca, chatice, maçada.
Pensou nas relações falhadas, nos tipos com quem saiu, nos tipos para quem se entregou e nos restantes. Pensou nos flirts, nos affairs, namoriscos que experimentou e tampas que aplicou. “Os homens, esses inúteis”.
Pensou nas dívidas, nas contas mensais, nas coisas que gostava de ter e, principalmente, no dinheiro que não tinha.
Pensou na família, nos amigos… nos inimigos.
Pensou em tanta coisa e em tão pouco tempo, e nem o barulho do vento abstraiu-a dos seus pensamentos.
Mas já não tinha mais tempo para pensar. Acelerava para o fim da viagem, o rio ali tão perto. Sentia a fresquidão que emanava do curso d’água.
Abriu os braços e entregou-se de corpo e alma… o rio quase, quase…








Desacelerou. A velocidade que ganhara, dissipara-se num milésimo de segundo. Ainda tocou com os seus cabelos negros na água antes de ser puxada violentamente de volta para cima.
O elástico fizera a sua parte e, então, finalmente, Júlia gritou:
“Que se fôda tudo o resto, é tão bom estar viva!!!”
E a música que agora cantava era outra:




Luís Fernandes Lisboa ®

Foto: www.panoramio.com