31 outubro 2011

Pai sofre XXIV: Halloween

Passados os "Noddys", Rucas" e outros que tais, eis que a minha menina passou a gostar de outro tipo de bonecos. Não que me orgulhe muito, mas ela vê o que eu via quando, há muitos anos atrás, era também um miudito.

Na TV Cabo (já não me ligam há meses, esses malandros!) existe um canal de desenhos animados inglês que pode causar um achaque de nostalgia fulminante aos mais velhos. O canal em causa chama-se "Boomerang" e por causa dele (e dela) comecei a (re)ver "Mutley and Dastardly", "Wacky Races", "Top cat", "Tom & Jerry", "The Flintstones", "The Jetsons" e, o preferido da minha pequenita (e porque hoje é noite de Halloween):



Aliás, o visionamento do amigo Scooby é quase um ritual: começa o desenho, aquece-se o leite, uma bolacha Maria e cama; é automático!
E a moçoila até já canta em inglês, pá! Se pelo menos o Sócrates visse isso...

7.000.000.000

Foto: Público










Parece ter nascido o bebé 7.000.000.000... e estes (e outros exemplos que facilmente se podem encontrar) vêm provar que existe (mesmo) gente para tudo.
Que este Homo sapiens sapiens possa ter uma vida longa, saudável e digna.

20 outubro 2011

"O" Médico

Tem sido difícil acompanhar a blogosfera (e muito menos publicar o que quer que seja) durante a semana. "Culpa" do trabalho e da família que me preenchem o tempo.
No entanto, hoje deixo aqui um vídeo que encontrei após "zappingar" o seu filme no canal Hollywood:



É indescritível o amor pelo próximo narrado por este "velho" médico. Mostra uma alegria e um desprendimento tão grandes que, ao longo de várias passagens, me fez sentir envergonhado das reclamações diárias.
Houvesse mais gente assim...

PS: existe neste blog um link para o site do seu projecto mas, para facilitar, aos interessados: www.patchadams.org/

16 outubro 2011

The (real) biggest loser

O Estado estava gordo. Estava cansado de ouvir falar de um necessário "fitness" para emagrecer o obeso glutão, sorvedouro de fundos e impostos, em que se tornara. Viciado no doce sabor do dinheiro, dependente da gordurosa perdição da corrupção e preguiçoso nos esforços de obtenção de hábitos administrativos saudáveis, já não conseguia ser suportado pela rede que o aguentava e estava a perder interesses.

O Estado investira pouco na sua educação e saúde. Suas economias eram parcas e o desenvolvimento exíguo nas últimas 3 décadas. Seu plano de seguro social era terrível e ameaçava desaparecer. Crescera pouco para cima e muito para os lados e já não cabia no traje orçamentado anualmente. O peso era tal que as suas pernas não o sustinham e deixara de andar; movimentava-se agora com canadianas, americanas, europeias, chinesas, ou qualquer outras muletas que o pudessem manter em pé.

Já por várias vezes inscrevera-se em ginásios de reputação mundial, contratara diferentes personal trainers de várias latitudes políticas, e, mesmo assim, falhara redondamente. Apesar dos esforços dos supostos profissionais, engordara cada vez mais, ficara pançudo e doente. Estava agora com obesidade mórbida e hipertenso. Aliás, a tensão estava a aumentar de tal forma que ameaçava explodir, a qualquer momento, mesmo no seu coração do poder central. A crescente gula por tudo que estava à sua volta ameaçava os seus sistemas orgânicos e arriscava-se agora à acidentes e convulsões sociais.

Cansado das dietas "ioiô" a que se tinha submetido tantas vezes, resolvera radicalizar: decidira ir à faca. Procurara auxílio de um corporação economico-estética, de renome temível internacionalmente, para resolver os problemas. Esta impingira um sério plano cirúrgico de cortes a direito em todas as suas áreas, inclusive as nevrálgicas.
Iniciara a empreitada com uma equipa cirúrgica supostamente canhota que, no entanto, demonstrara uma incrível tendência para o "show-off", a auto-propaganda e a incompetência (por coincidência, tal como as que a antecederam). Trocou-a por uma (demasiado) destra. Oficializada a nova equipa de salvadores, o Estado começou a ser intervencionado.

Na sala de cirurgia mundial, o Estado foi manietado, anestesiado e esquartejado. Com o seu âmago exposto, seus órgãos funcionais foram cobiçados e ficaram à mercê de um mercado traficante/agiota/especulativo: órgãos funcionantes, com dividendos, foram cuidadosamente retirados; os podres lá se mantiveram, corroendo-lhe as remanescentes entranhas. Nessa cirurgia demorada ( que levará ainda décadas a terminar) grande parte da gordura foi mantida e apenas a riqueza intelectual, o sangue bom e os neurónios funcionantes foram migrados para outros Estados mais saudáveis e activos. Os cortes indiferenciados feriram os tecidos estatais retirando-lhes a sua nutrição e matando-os lentamente.

O Estado então ficou magro de nutrientes e gordo de venenos. Terminou pobre, (miserável mesmo), subdesenvolvido e cheio de sequelas físicas e psíquicas. A desnutrição intelectual levou-o à insanidade. A falta de nutrientes económicos levou-o à anemia e à fraqueza muscular/braçal, atirando-o para a inanição.
Como resultado da abdução das suas mais valias, o Estado implodiu. Caiu por colapso das infraestruturas. Seu esqueleto social ruiu perante a falta das vitaminas laborais e económicas necessárias para o manter activo.

No fim, o Estado, obeso de vícios/magro de virtudes, tornou-se moribundo. Agónico e perdido, morreu pouco-a-pouco e, fagocitado por algo maior, desapareceu...

... ficou, no entanto, num grão das suas cinzas, a lembrança de poemas de glória e de um fino à beira-mar...

15 outubro 2011

Vontade de abalar

No seguimento de mais um roubo, mais cortes finos e dementes, cresce a vontade de abalar. Enquanto não decido para onde deserto, vou sonhando com Parságada.



Vou-me Embora pra Pasárgada


Manuel Bandeira


Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.


Texto extraído do livro "Bandeira a Vida Inteira", Editora Alumbramento – Rio de Janeiro, 1986, pág. 90

06 outubro 2011

Yo quería ser de América Latina*

Adicionar sobrenome latino-americano: hecho;
Utilizar sotaque da América do Sul: hecho;
Adicionar "Portunhol" em idiomas: hecho;
Foto de Hugo Chavez na carteira: hecho;
Solário para bronze Barranquilha-like: programado;
Inscrição no partido de Bolívar: programado;
Curso de Marinera: en la ponderación;
Registo na página do Sendero Luminoso ou FARC:
pendiente de aprobación;
Formação adicional na Faculdade de Medicina da Universidade Anton de Kom - Suriname: programado;
Finalmente:
Nuevo contrato con el ARS: bajo negociación;








*PS: private joke.

Desabafo

Caro leitor, encare este texto apenas como um desabafo, um desalento de alguém entristecido. Não sinta pena, não tenha compaixão, não julgue; apenas leia se tiverem pachorra e encare isto como algo sem qualquer importância e que só serve para aliviar um pouco a alma de quem o escreveu.



Estou de férias. Uma semana que saio do inferno do meu trabalho, mas trago-o comigo, como um moedouro que não me permite o afastamento completo.

Desde miúdo cultivei um sonho: ser médico. Trabalhei muito ao longo do liceu, privei minha adolescência de várias “coisas da idade”; namorei tarde, saí tarde, vivi pouco daquela fase buscando o objectivo que tinha em mente. Fui muitas vezes tentado, ridicularizado, provocado por aqueles do “deixa-estar”, do “empurrar-os-anos-com a barriga”, do “tu-só-sabes-estudar": bando de chicos-espertos.
Porquê ser médico? Porque sempre tive tendência para ser otário. Sim, isso mesmo: otário. Porquê? Porque, pensava eu, poderia, assim, ajudar quem mais precisasse. Ajudar o doente, o dependente, o desesperado. Coisas que vejo, agora, terem pouca ou nenhuma importância para a sociedade em que vivemos. O interesse actual gira em torno de outros dogmas muito menos magnos.

Tinha o médico como um ídolo e um modelo que gostaria de seguir. A beleza da arte me fascinava: a preocupação para com o próximo, o segurar da mão e o mimo ao doente, o sorriso fomentador de esperança, o consolo da família. Tinha um enorme respeito pelo médico que ía, solícito, à casa do doente; adorava ver o que tinha na mala e prestava atenção à observação que fazia ao doente. Idolatrava a postura, a sabedoria, a delicadeza e a educação inerentes à profissão. Ignorava que era um trabalho igual a tantos outros e sujeito a alvíssaras.
Era isso que desejaria fazer para sempre e faria tudo o que pudesse para alcançar esse propósito.

Passados os anos de clausura (e muitas vezes solidão) veio a recompensa: Coimbra. Passei as passas do Algarve para acabar o meu curso. Estudava durante a semana, tentava ajudar os meus pais no fim-de-semana, arrisquei o meu relacionamento com a minha mais-que-tudo. Não aguentei a pressão e deprimi passado algum tempo, pensei e planeei formas de entrar em contacto directo com o Criador, foram lágrimas, suor e quase, mesmo quase, sangue. O meu percurso na faculdade não me orgulha… mas levantei, sacudi a poeira, dei a volta por cima e consegui.
Fiz o Juramento de Hipócrates e nessa altura senti-me médico por inteiro. Não foi o diploma ou o cartão da ordem que me fizeram médico, foi o meu esforço espelhado naquelas frases feitas mas com uma minha interpretação própria.

Enveredei pela parente pobre das especialidades médicas: a Medicina Geral e Familiar. Tão falada nas notícias, tão pouco compreendida por todos (inclusive muitos dos que a representam e praticam). A especialidade que "vê" a pessoa como um todo e que é a pedra basilar do sistema de saúde. Se for feita com seriedade e respeito: a mais bela forma de se fazer medicina.
Foram quase quatro anos de mais trabalho, de investigação, de aprendizagem e de mais privação pessoal e familiar. Novamente consegui e desta vez com distinção.

Hoje sou Médico de Família. Trabalho no que sempre quis e sonhei... mas quem sonha muito, por vezes, tem noites em que sonha mal.

Estando no terreno vê-se o que não se vê nas polegadas da TV. O que jornalistas, políticos, alguns médicos e utentes dizem não corresponde à inteira realidade e não pinta o quadro todo. Quem "é de fora" não tem noção (nem compreende) a dificuldade da tarefa, as pressões várias dos doentes, dos colegas, dos chefes, dos políticos e as limitações do próprio médico. Não se pense que é fácil ser-se médico e gerir todo um mundo de interesses que de medicina nem sequer chegam a ter cheiro.

Tal qual a imagem que sonhava, norteio a minha prática pela ética, honestidade, seriedade, rectidão e trabalho. Chego à conclusão que todas estas virtudes encontram-se subvalorizadas. Quem por elas se orienta é alvo a abater porque encrava o sistema instituído. Vejamos, é mais fácil mentir, aceitar, resignar-se e ir com a corrente do que insistir e lutar contra o que se considera errado. Quem muito cria raízes arrisca-se a sofres mais na hora de ser arrancado do sistema.

Cheguei à conclusão (em muito pouco tempo) de que, ao fim dos meus dias de trabalho, pouca medicina faço. Sou mais um secretário. São papéis a mais e estetoscópio a menos. São burocracias, economias, números e estatística, vontades e direitos hipertrofiados; ninguém dá valor aos deveres e responsabilizações.

Cansa muito mais ser íntegro; seria mais simples juntar-me à manada.


Depois de tantos anos de trabalho árduo em busca de um sonho, entristece-me concluir que andei atrás de uma fantasia, de um unicórnio alado. Cheguei à triste conclusão de que, mais que os doentes, é a própria medicina e seus agentes que padecem de patologia. A medicina e o sistema de saúde estão podres e os seus valores subvertidos. A figura do médico, que me apaixonou à infância, existe agora em forma residual, aqui e ali; deixou-se borrar pelos interesses instituídos, pelo sonho de riqueza, pela arrogância de um posto, pela má gestão e pelo facilitismo. Deixou-se levar pela falácia dos políticos, pelos desejos insustentáveis e impaciência dos utentes e esqueceu-se dos verdadeiros doentes. Elegeu pessoas para as representar que não têm a visão daquele que sofre no horizonte e que apenas defende os seus subscritores (e mesmo assim nem todos e nem nas situações que deveria). A Medicina está agónica e a precisar urgentemente de um Hipócrates ou Galeno.

Talvez seja eu e a minha irritante tendência ao exagero. Talvez a culpa seja minha de idealizar uma imagem que nunca correspondeu à realidade. Talvez seja apenas muito ingénuo (mea culpa). Talvez seja apenas uma fase em que esteja hiper-hidratado e necessite libertar alguma água pelos olhos sempre que termine o dia de trabalho. Talvez nada disso exista e seja apenas uma miragem da minha personalidade negativista. Talvez... quem sabe?

Neste momento, a medicina que sou obrigado a fazer deixou de ser apaixonante, divertida e, pior, deixou de fazer sentido.

Espero por dias melhores...

03 outubro 2011

Ilhas dos amores? Sois vós Açores.

Para o desafio viagens da "Fábrica de Letras":



Das (poucas, infelizmente) viagens que fiz, a que mais me surpreendeu foi a que me levou até aos Açores. Surpreendeu-me talvez porque não estava preparado para o que ía ver. Não tinha qualquer noção do que me apresentariam as diferentes ilhas e fiquei apaixonado, desejoso de voltar...
Este envergonhado projecto de poema que vos apresento surgiu-me na viagem de regresso num repente, quase sem pensar, daí poder parecer negligente ou infantil, mas é assim que o coração "escreve" quando está enamorado, certo?
O que surgiu foi, portanto, puro e verdadeiro.




(foto da minha autoria)

01 outubro 2011

Gastronomia madrugadora

Meu vizinho tem um galo que, às 4 horas da manhã, faz-me pedir por um bom arroz de cabidela...