31 julho 2012

Eu me amo!

O narcisismo moderno será um tipo gostar do seu próprio estado no Facebook?

30 julho 2012

"Educação" não tem 50% de desconto em cartão Continente!


Como costumo dizer cá por casa: "educação não se vende em prateleiras..."
Estava eu, no meu popó, estacionado entre outros dois veículos, quando o vizinho do lado esquerdo chega com os seus dois pimpolhos, preparados para abandonar a zona. 

Um à parte: sei como são as crianças. Por experiência própria, já experimentei da ansiedade e irreverência infantil e compreendo que, às vezes, é difícil domar um pequenote.

Voltando à situação.
O dono da viatura abriu o carro e, consequentemente, "libertou" o fecho central. O mais pequeno abriu a porta e testou a rigidez da porta do meu carro provocando um estrondoso e melodioso som: "Bum!".
O pai foi exemplar: austero e educador; e repeendeu-o da seguinte forma:
"Então? Cuidado filho! Não vês que estão pessoas nesse carro?", enquanto o acomodava na respectiva cadeira de segurança. 
Fiquei à espera de um "desculpe, sabe como são as crianças" e uma averiguação dos estragos... mas nada. A malta aninhou-se na viatura e foi-se.


Conclui então que, para aquele progenitor, se não houver ninguém na viatura vizinha, os seus filhos podem bater com a porta  à vontade; melhor, podem dar pontapés, usar uma maça de guerra,  uma bazuca ou uma machadinha apache em propriedade alheia; aprendi também que "peço desculpas" é uma frase sobrevalorizada e, com esta crise, uma grande percentagem de agregados familiares não a podem suportar.


Pior que a crise financeira e esta que actualmente vivemos: a de valores (imateriais).  


PS: como a porta tem de ser arranjada por outra mazela mais antiga não me preocupei muito (mas anotei a matrícula na mesma: pode ser que vislumbre o prevaricador [a terra é pequena]).



19 julho 2012

Eles estão a chegar... insidiosos...

A observar esta sequência de acontecimentos:

1) A TROIKA sugere no "memorandum" a VENDA do Negócio da SAÚDE da CGD;

2) O Governo nomeia António Borges para CONSULTOR para as VENDAS dos negócios Públicos;

3) A Jerónimo Martins (Grupo Soares dos Santos) CONTRATA o mesmo António Borges para Administrador (mantendo as suas funções de VENDEDOR dos negócios públicos);

4) O Grupo Soares dos Santos (Jerónimo Martins) anuncia a criação de um novo negócio: a SAÚDE (no início DESTA SEMANA);

5) A TROIKA exige a VENDA URGENTE do negócio da SAÚDE da CGD já este mês (notícia de HOJE).



(in Artº 21º)

E a malta vai se chateando com Relvas e afins...



18 julho 2012

Plagiando

"Paulo Macedo, é aquele iluminado, que saiu do privado para vir ganhar rios de dinheiro para o sector público, devido à sua elevada competência e mérito. Na altura, todos diziam (incluindo o próprio) que se queríamos os melhores no sector público era necessário pagar e bem por isso.

Já em relação aos médicos, quanto piores as condições de trabalho e a remuneração melhor. Continua a fazer sentido, afinal de contas, nem este governo nem este ministro, querem os melhores no serviço nacional de saúde. Pelo contrário, querem degradá-lo de tal maneira, que daqui a cinco anos a qualidade seja tão miserável que não haja oposição dos cidadãos, ao seu encerramento.

Entretanto, inúmeras manifestações de inveja social têm sido promovidas: "os médicos são uns previligiados", "ganham muito", entre outras alarvidades.

Este pensamento mesquinho de "eu estou mal, logo o outro tem de estar como eu" é miserável, mas dá frutos. É uma propaganda que pega bem, sem dúvida.

Ainda não ouvi ninguém falar do salário e regalias dos gestores hospitalares, nomeados politicamente e com resultados para lá de duvidosos. Ainda não ouvi reclamar sobre todo os cêntimos que pagamos ao incompetente do Passos Coelho, serem cêntimos pagos a mais.

Ouço reclamarem com os médicos, os mesmos que após um turno de 24 horas, e ao contrário do que está na lei, são obrigados a fazer mais um turno na enfermaria, para os doentes não ficarem ao abandono.

Quando Gaspar erra nas contas públicas, diz que foi um lapso; quando um médico erra, leva um processo da ordem das centenas de milhares de euros... mas faz sentido que reclamem com os médicos. Façam um altar aos banqueiros, ou aos Mexias, Catrogas, Dias Loureiros e afins! Esses sim são os que nos tratam da saúde e fazem serviço público.

Que país é este, sinceramente? Paulo Macedo veio dos grupos privados da saúde, para continuar a trabalhar para eles. Repararam que desta vez, ao contrário de quando foi para cobrador de impostos, ele não exigiu um salário milionário? Alguém duvida que, à boa imagem de outros ex-ministros, ele será premiado com uma cadeira dourada, assim que acabar o seu servicinho?

Paulo Macedo está a angariar clientes para o privado e a destruir o serviço nacional de saúde, para benefício dos seus ex e futuros patrões. Os médicos viram isso a tempo, e não querem acabar em mão de obra barata para a Médis, Multicare e afins.

Quem, no seu juízo perfeito, os pode censurar? "

Francisco da Silva

Retirado daqui: artigo 58

11 julho 2012

09 julho 2012

Porque greve?

Hoje no BMJ online (British Medical Journal):  "... a suspicious sign of a progressive move towards the privatisation of Portugal’s National Health System, which took decades to build, and which some years ago was considered by the World Health Organization as one of the best in the world."

Algumas coisas que andam por ai: 

"Hospitais privados vão ter internos: O Governo prepara-se para incluir o sector privado na formação pós-graduada dos jovens licenciados em Medicina..." (Fonte: Tempo Medicina")

"Hospital-escola de gondomar abre em Setembro" (Porto 24)

"Isabel Vaz: "Só preciso que o Estado não me chateie" (Negócios Online)

Não à privatização do SNS!!!


08 julho 2012

Manifesto (pessoal):Direito à indignação

Neste momento de crise, material e de valores, alguns se sentem indignados. Sentem-se indignados porque não têm trabalho, ou porque têm baixos salários, ou não têm subsídios, ou não têm oportunidades, ou não têm nada daquilo que costumavam ter e, porque lhe foram retirados das suas benfeitorias, indignam-se. No entanto, sentem-se na legítima posse desse sentimento e parecem não querer cedê-lo a todos. Parece-me que não me querem deixar estar indignado também. Parece que não tenho direito ao desalento por ter o que chamam de “privilégios”. Têm razão em dizer que tenho alguns privilégios; tenho o privilégio de exercer a profissão pela qual lutei ao longo da vida, e o privilégio de ter contacto com o doente, e o de poder encontrar solução para um problema de saúde grave, e o imensurável privilégio de ouvir mais “obrigados” do que críticas. Mas não são desses privilégios que os outros indignados me acusam. Acusam-me de ter privilégios materiais, de ganhar muito, de fazer pouco, de ter status, de ter o rei na barriga, de ter emprego garantido, entre outros privilégios que, a sua falta de visão periférica, permite ver. Esquecem-se que faltam outros privilégios como, por exemplo, condições de trabalho, férias, feriados, natais em família, oportunidade para constituir família, de (por vezes) exercer medicina de forma livre…

Pergunto aos indignados “ de verdade”: quem me traz de volta o tempo perdido dos “teens” e dos 20’s em que estive a estudar em detrimento da boa vida dos indignados “à séria”? Quem me traz de volta o 1º andar do meu filho que perdi por estar em serviço? E o bacalhau da consoada? E a distância da família durante os anos de estudo e internato? Parece que não me posso indignar pela perda de direitos e pelas injustiças. Parece que não cumpro com os meus deveres de cidadão. Parece que o meu cartão de eleitor não tem valor, o número de contribuinte não serve para nada e o serviço militar cumprido era escusado (e era, na verdade). Parece que, por ser médico, sou menos cidadão. Parece que sou imune às doenças e à possível necessidade de ser utilizador do sistema de saúde. Parece que, pela literacia e ofício, não tenho direito, eu também, à reivindicação e à revolta contra aqueles que me querem tirar direitos como profissional e eventual doente. Sugerem-me que não devo lutar pela manutenção do único sistema público funcional e internacionalmente (bem) reconhecido deste país. Suspeito que não me querem a manifestar contra as injustiças de cortes cegos, feitos por quem apenas reconhece em mim um objecto e, no utente, um número de cartão. Parece que não posso querer ter uma carreira. Parece que não me querem avaliar pela qualidade e competências e que não posso lutar para que não me considerem como uma embalagem de supermercado com um selo promocional. Parece que não tenho direito ao uso do calão português para qualificar quem quer destruir o meu SNS.

Quem me retirou o direito à indignação? Quem é dono desse sentimento e não “mo” quer emprestar? Porque tenho eu de aceitar que me diminuam como profissional e cidadão sem que possa mostrar a minha revolta? Porque tenho de aceitar que, depois de tanto sacrifício, pessoal e familiar, seja um dado adquirido da sociedade sem vontades ou direitos? Quem me quer impedir de lutar por direitos conquistados por quem lutou antes de mim? Querem-me fazer crer que tenho de me envergonhar e que não tenho moral para a amotinação, qualidades de quem quer ser um verdadeiro “indignado”? Não sou daquele tempo, mas parece-me que existiram médicos no 25 de Abril. Não me lembro de ter lido que tinham sido escusados à revolução. Lembro-me de ouvir estarem juntos a padeiros, pedreiros, costureiros, militares e prostitutas, e de envergarem, eles também, simbólicos cravos. Não percebo o que terá mudado tantos anos depois… Dessa forma, sinto-me indignado. Indignado por todos os direitos que me foram já retirados, e pelos que ainda pretendem subtrair, como profissional e utente do SNS. Assim, nos dias 11 e 12 de Julho de 2012, pretendo fazer-me ouvir, no bom e velho estilo de uma República democrática, aquela mesma dos meus pais e avós… e ai de quem me quiser retirar esse direito!!!

Para os que querem ainda acreditar que esta greve é puramente salarial e/ou politizada (como insistem em insinuar o Sr. Ministro e Secretários da Saúde):

- Carreira, reconhecimento das especialidades, valorização do internato e dos internos, tabelas justas, gratuidade do SNS, regulamentação do Acto Médico, acessibilidade garantida a todos, anti-cortes cegos que impeçam o acesso a todos os tratamentos, renegociação urgente das PPP’s da saúde, anti-privatização e anti-americanização do SNS e, acima de tudo, anti-desumanização do Serviço Nacional de Saúde!!!

 E, parafraseando uma música bem velhinha (indignação - Skank) "... indignação indigna, indigna INACÇÃO!"