13 junho 2013

A doença

Portugal sentia-se mal. Sentia-se fraco, febril, com cefaleias e desvarios; sentia-se a convulsivar a qualquer momento. Queixava-se de vómitos austeros e diarreias intelectuais. Tinha ideias persecutórias nas quais seria alvo de alemães e organizações financeiras várias.
Resolveu ir a um médico cirurgião, famoso pelos seus dotes nos cortes, a ver se este lhe cortava definitivamente o mal pela raiz.

O Dr. Passos atendia em São Bento. A troco de uns bons trocos consultou Portugal.
Durante a consulta, Portugal foi contando os seus ais: "ai, que me doem as estruturas, as infra e as macro", "ai, que tenho a visão curta e não vejo o futuro", "ai, que me dói os ouvidos de tanta lamúria", "ai, que a sodomia política me fez mal às hemorróidas","ai, que me coçam as virilhas de tanto parasita"...
O Sr. Prof. Dr Passos diagnosticou, de imediato, uma neurose nesse tão estranho paciente. Considerou-o um daqueles doentes chatos que se queixam de tudo e mais alguma coisa: tudo lhe dói, até o cabelo; tudo é uma desgraça; tudo vai acabar mal; blá, blá blá. O doutorzito começava a ficar irritado com tanta queixola. "Esse Portugal é mesmo um maricas, pá; será que não vê que está tudo bem? Quem dera que os meus pacientes pudessem ver com os meus olhos", pensava o Dr.

A consulta já se prolongava no tempo quando o Dr. Passos, após profunda reflexão e uma boa dose de canastrice, resolveu dar nomes aos bois:
- Meu caro Portugal, o Sr. padece de uma espécie rara de Síndrome Metabólico Nacional. É o primeiro caso que tenho mas parece ser endémico do sul da Europa e tenho a impressão de ser bastante contagioso. Consiste, basicamente, em gorduras a mais e, consequentemente, peso a mais. O seu Estado é, portanto, obeso. A somar, o senhor tem Diabetes pública, resultado dos doces gastos dos últimos 38 anos. Sabe, as suas células viveram à grande e os seus órgãos sugaram tudo o que podiam e não podiam. Quando somos novos não pensamos no futuro e a sua democracia é um claro exemplo de uma juventude transviada... ah, e o senhor é neurótico também, já agora.
- Mas, Dr, isso está assim tão mal? O que é que se pode fazer?  
- Proponho um tratamento de choque?  
- Ok, drogas fortes...  
- Não, não, mesmo choques: electrochoques! Electroconvulsoterapia! É o melhor para essa mania de perseguição e esse fado que o senhor tem.  
- Mas, sr. Dr., pensei que a neurose era um diagnóstico secundário! E então essa gordura e a diabetes, não me podem parar o coração republicano e o cérebro democrático? O senhor não é cirurgião? Não me corta nada?  
- Bem, primeiro esses orgãos de que fala já há muito estão parados, meu caro Portugal. Além disso, há quem viva dessa gordurinha boa que tem; não lhes quer estragar a vida só porque tem a sua arruinada, não é? Quanto ao cortar, já lhe cortei as esperanças, que mais quer?    
Portugal saiu a rastejar, desmoralizado, daquele gabinete. No entanto, não satisfeito, foi procurar uma segunda opinião doutro douto senhor que consultava num palácio cor-de-rosa de Belém.
Pobre Portugal, estava mesmo perdido...

2 comentários:

João Roque disse...

EXCELENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Catsone disse...

Tks, friend :D