11 junho 2013

On/off

Marido e mulher entram no gabinete. Vêm os dois para uma consulta de "rotina" acompanhados pela filha.
Ela é baixa, não chega ao metro e meio bem cheinhos por uns bons quilos a mais; ele é um pouco mais alto e mais longilíneo.

Desde o momento em que os dois abrem a porta do gabinete ouço a senhora a falar. Aliás, se não estiver a exagerar, penso já ouvi-la mesmo antes de entrar no consultório.

Começo as consultas por ela. 
A senhora é daquelas pessoas que vai ao Porto para ir para Lisboa. Começa a falar em alhos e, sem se saber como e porque, altera para bugalhos. Tem um discurso verborreico incessante, rotativo, apenas com ligeiras pausas para respirar. Salta de um assunto para outro como um Cadillac de um mexicano qualquer de Los Angeles. A filha bem tenta reprimi-la mas é como se se sentasse num touro mecânico: desiste logo aos 3 segundos.

Eu deixo a simpática senhora falar, falar, falar. Não digo palavra nem faço qualquer interrogação: dou-lhe tempo de antena. Quando finalmente cede um flanco, tomo as rédeas e, passados os 15 minutos de antena (não de fama), a consulta se encerra.

Passo então para o companheiro. 
Durante todo o tempo da consulta da esposa, ele nada falou. Não abriu o bico ou prestou atenção no que foi dito. Por vezes elevava os ombros e suspirava. Parecia acostumado...
Quando finalmente pergunto "e então, sr, o que o traz cá", a senhora liga-se novamente em virtuoso e veloz discurso, tentando explicar tudo por ele e voltando às suas próprias mazelas.
Deixo-a falar por mais um ou dois minutos e então olho seriamente no rosto do seu marido e pergunto com a maior naturalidade:
- Onde é que se desliga?

Escusado será dizer que, à excepção da faladora, todos os outros riram-se.
Risota passada pude, por fim, terminar as consultas.
Que nos valha o jogo de cintura.




3 comentários:

El Matador disse...

Ahah, não acredito...

João Roque disse...

Ai eu também ri, e com vontade...

Catsone disse...

Killer, acredita. De vez em quando, os meus utentes levam com uma piadola: é mais fácil dizer certas verdades a brincar :D
Abraço.

João, também nós, amigo, também nós.
Abraço