15 março 2014

Valle, ó que valle

Ele tragou do licor e deixou-se ir, escorrendo pela ingrime montanha em direcção ao mágico valle.
Pelo alucinante caminho encosta abaixo sentiu-se feliz, ouviu-se rir por tudo e principalmente por nada; viu a vida de forma diferente: viu-a em duplicado.
Ao longo da viagem embateu violentamente contra as várias cepas do terreno, mães da mágica fruta que lhe deu de beber. Chocou com as vides e sangrou da mesma cor do fermentado que enfeitava o copo e do qual sorveu em honesta quantidade. Sujou-se com a terra santa das escarpas férteis do ouro violeta e limpou-se às parras das santas plantas licorosas.
Chegou finalmente ao destino e ainda sob efeito lisérgico da arroxeada seiva ficou deitado no valle a imaginar curvas de mulher nas montanhas à sua volta e num abraço infinito tentou envolve-las a todas.
Nesse valle encantado encontrou um rio de líquido pecado e sorveu-lhe um pouco do seu  conteúdo. Depois mergulhou no curso etílico e deixou-se ir a boiar em direcção a uma cascata vinhateira  para, por fim, afogar-se em novo valle de prazer.