14 setembro 2016

Daltonismo ecológico?



Eu reciclo, ok? Faço os possíveis para por o plástico, o vidro e o papel em pequenos contentores coloridos que jazem num canto da cozinha, ensino também os meus filhos a reciclar, sob o preceito da protecção do meio ambiente, e ainda tenho a pachorra de incentivar alguns amigos a fazer o mesmo.
Viram, eu reciclo, certo? Afinal até sou um bom rapaz e tal. Faço a minha parte, mesmo que exígua, para salvar o planeta. 

Apesar de fazer esse pequeno esforço, nunca decorei a porra das cores de cada um dos contentores da reciclagem. Quando pergunto “o vidro, é para qual contentor?”, respondem, com uma cara de espanto, “a sério? Não sabes? Como é possível? Nos dias de hoje?Puff”.
Desculpem lá mas eu não tenho de me recordar a cor correspondente ao tipo de lixo. Com o passar dos anos um fulano deixa de ter espaço na memória para ser ocupado com este tipo de frivolidades. Cada sinapse tem de ser aproveitada para coisas mais importantes, como por exemplo, o nome daquele jogador que marcou um golo decisivo no final do campeonato nacional de 1996 ou a marca daquele vinho mesmo bom e que se esqueceu após consumo exagerado do mesmo.
Já faço um esforço hercúleo para saber que existem 3 contentores de diferentes cores para desperdícios que vão além do lixo dito normal, e que um é amarelo, o outro é verde e o terceiro é azul. E já é muito. Além do mais, para que catso iria eu perder tempo a lembrar de uma coisa que está escarrapachada no próprio contentor? Só tenho de lá chegar, ler o que está na informação e despejar o conteúdo no depósito correspondente, não é?
Pois parece que não; não é suficiente! Um tipo tem de saber a cor a que se destina a porcaria da garrafa de cerveja e a lata de atum!
E agora até existe um pilhão, bolas!!!


“O Gervásio demorou 1 hora e 12 minutos para aprender a separar as embalagens usadas. E você...?”, perguntava no fim o “cientista” da publicidade à reciclagem. Bem, parece-me que se confirma que sou um macaco bem intencionado mas um pouco menos treinado…

05 janeiro 2016

A vingança do -

O hífen andava revoltado. Com o acordo ortográfico ficou arredado da companhia de diversas palavras porreiras e estava preocupado com o seu futuro. Desaparecera sem ter sido consultado, sem ter tido uma "palavra" a dizer.
Não se conformava com a situação e quis juntar-se ao "c" numa espécie de contestação contra o chamado "acordo ortográfico".
Embora o "c", que tinha sido subtraído de muitas de suas companheiras e expulso de várias palavras, também estivesse lixado da vida, não quis aceitar a associação com o hífen. Dizia que aquilo que o sinal propunha era ainda pior que o tal acordo, uma espécie de terrorismo em todas as terras de língua portuguesa, inclusive na Guiné Equatorial.
O hífen, mesmo sem a ajuda de outras letras e/ou sinais prejudicados com a nova ortografia, resolveu ir à luta sozinho. Queria voltar a ter protagonismo no idioma e começou a fazer por isso. Lentamente, foi-se introduzindo nos diálogos. Insidioso, foi aparecendo cada vez mais amiúde e utilizou uma táctica inteligente: infiltrou-se no discurso dos mais novos. Das crianças aos adultos mais jovens, foi aparecendo mais frequentemente e agora, depois desse esforço bélico, devido a sua raiva e em jeito de retaliação, o hífen reaparece, tanto nas palavras de onde desapareceu, como noutras onde nunca sequer deveria surgir...